Cartaz da ópera tornou-se símbolo de 'música degenerada'
Nenhuma outra obra da música moderna – nem mesmo a Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill – teve um triunfo comparável. O público adorava a empolgante música em estilo de night club, mais do que o próprio compositor Ernst Krenek o desejava.
Dois mundos
"Na minha opinião, as pessoas não entenderam direito a apresentação. Foi dito que, finalmente, chegara a nova ópera. Que ela mostrava tudo – um automóvel, um trem, um telefone, um rádio – e que isso era a nova ópera! Mas essa não foi a minha intenção. Eu queria mostrar a contradição entre Leste e Oeste, entre a Europa Central e a América", disse Krenek.
O líder da banda de jazz, um negro, simbolizava a América, o Novo Mundo. Ele era vital, quase animalesco, voltado à vida, ao amor e à sensualidade. Seu oposto era Max, um compositor europeu, depressivo, inapto para a vida e com pensamentos suicidas. Com a ajuda de Johnny, no último segundo, Max consegue embarcar num trem ferroviário que, ao mesmo tempo, significa o trem da vida, onde encontra Anita, seu grande amor. O enredo evolui até o happy end, em que Jonny toca violino.
Sem conhecer a América, pois nunca havia estado lá, Ernst Krenek tinha, na época, a impressão de que os negros eram livres e tinham uma mentalidade completamente diferente do que imaginavam os europeus. "Por isso, o negro Jonny era para mim o símbolo da América. Se eu tivesse conhecido a realidade, na época, não teria escrito isso", disse mais tarde.
Como a maioria dos seus contemporâneos, Krenek vinculava os artistas negros a superestrelas como Duke Ellington ou Josephine Baker. Nada sabia, porém, da dura realidade do negro norte-americano médio, da discriminação e do ódio racial. Até ele próprio tornar-se vítima da discriminação.
Proibição
Emigração
Segundo os musicólogos norte-americanos Christoph Wolf e Reinhold Brinkmann, autores do livro Driven into Paradise – The Musical Migration from Nazi Germany to the United States, o número de músicos que emigraram da Alemanha nazista para os EUA no período de 1933–1944 varia de 500 a 1,5 mil, conforme as fontes.
A partir de 1968, Ernst Krenek voltou esporadicamente à Europa. Intermediador entre o neo-romantismo, dodecafonismo, jazz e a música eletrônica de vanguarda, o compositor multitalento desfrutou do maior reconhecimento artístico. Apesar disso, nunca mais encontrou sua pátria no Velho Mundo.
"Não me sinto em casa em lugar algum. É muito triste ter esta sensação no fim da vida. Mas é preciso suportar isso, já que não se pode mudá-lo. Tento superá-lo, vivendo uma parte do meu tempo nos EUA e outra na Europa. Mas isso não altera o fato de que não se pertence a lugar algum", disse.
Ao morrer em 1991, aos 91 anos de idade, suas obras tinham entrado há tempos para a história da música. Mas, para tornar-se famoso, ele precisou compor uma só: a ópera Jonny spielt auf.
Catrin Möderler (gh) © 2007 Deutsche Welle
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A guerra dos bôeres na África do Sul foi destaque dos jornais alemães em dezembro de 1899
Manchetes alemãs
Os jornais alemães, porém, ocupavam-se prioritariamente com fatos da atualidade, em suas edições de 30 de dezembro de 1899. O Kölner Tageblatt, por exemplo, noticiava: "De Londres informa-se que o departamento de guerra recebeu notícias muito sérias da África do Sul. A revolta dos africanos (nativos negros) já estaria se estendendo até 50 milhas da Cidade do Cabo. Os ingleses teriam conseguido afugentar patrulhas dos bôeres (descendentes de holandeses) ao longo da cadeia de montanhas rumo ao oeste. Houve troca de tiros. Os bôeres receberam reforços. Os ingleses voltaram à sua base sem baixas".
O jornal Kölner Tageblatt informava também que a família imperial alemã estaria em Berlim, de 30 de dezembro de 1899 até 3 de janeiro de 1900, para preparar sua mudança definitiva para a capital. Além disso, destacava um discurso do imperador austríaco Francisco José, gravado por meio de fonógrafo, durante um jantar oferecido à família real da Sérvia em Viena. "É uma satisfação acompanhar os progressos feitos pela integração entre ciência e técnica, nas últimas décadas. Assim, as mensagens telegráficas impressas foram complementadas pelos sinais audíveis do telefone e, agora, com o fonógrafo, as palavras faladas podem ser gravadas e ouvidas, muitos anos mais tarde, por gerações posteriores", disse Francisco José.
Em seu noticiário econômico, o Kölnische Zeitung informava que "os pesos de Buenos Aires aumentaram sua cotação no mercado financeiro, por serem bastante procurados". Uma notícia que, diante das crises mais recentes na Argentina, torna-se ainda mais incrível.
E, por falar em Argentina, a 24 de agosto de 1899 nasceu em Buenos Aires o escritor Jorge Luis Borges, que conquistou fama internacional abordando os mistérios da existência humana a partir das religiões, mitologias e filosofias mundiais. No mesmo ano, no Brasil, foi publicado Dom Casmurro, em que Machado de Assis passou a desenvolver a sua prosa realista e a compor complexos retratos psicológicos.
Manchetes brasileiras
Uma visita aos arquivos de jornais brasileiros revela outras curiosidades da virada do século 19 para o século 20, inclusive algumas mudanças que o português escrito sofreu desde aquele tempo: "Agora então, mais do que nunca, que o Brasil, paiz immenso e cheio de recursos naturaes, offerece a anomalia de uma crise economica profunda, devida exclusivamente aos desvarios da política, devemos todos nos acercar da Patria, num grande esforço collectivo, amparando-a contra os ataques do partidarismo desenfreado que a exhaure nas fontes mais preciosas", reproduziu o Estado de S. Paulo do vespertino O Jornal.
Em 1899, uma crise cambial assaltou o Brasil. O governo foi obrigado a incinerar pilhas de dinheiro o ano todo. Reclamava-se da interferência dos banqueiros estrangeiros, naquele tempo londrinos. Era um tempo em que se vendiam "fotografias da voz". O Viagra da época era o famoso Vinho Caramuru. O Acre ainda era disputado por brasileiros e bolivianos. O Pará entusiasmava-se com as comemorações dos 400 anos de descobrimento do Brasil, que há dez anos era uma república sem escravos. Já se falava da transferência da capital do país para o Planalto Central, "para promover o desenvolvimento do vasto território brasileiro". E os inevitáveis artigos prevendo o fim do mundo ocupavam páginas e páginas dos jornais.
Na realidade, porém, "a conclusão numérica do século em nada parecia um fim de mundo. Muito pelo contrário, levava a marca característica de um acontecimento passageiro", como escreveu o Stadtanzeiger der Kölnischen Zeitung, diário alemão da cidade de Colônia, em 30 de dezembro de 1899.
Geraldo Hoffmann © 2007 Deutsche Welle