Efemérides

Wednesday, August 22, 2007

1920: Estréia o Festival de Salzburgo

Sede de um dos mais importantes festivais do mundo: Salzburgo

Muitos conhecem a história de Jedermann, o pecador rico que acredita poder comprar tudo com o seu dinheiro, até que a morte o convence do contrário.
"O que deseja de mim, meu Deus? Quer acertar as contas comigo e sem demora. Não estou de maneira alguma preparado para fazer tal prestação de contas. Sou um homem rico e poderoso, a questão tem de ser adiada – não!"
A apresentação de Jedermann (qualquer um) marca, todos os anos no verão europeu, o início do Festival de Salzburgo, a cidade barroca austríaca. Ao lado do teatro, o programa do festival cultural – que está entre os mais caros e importantes do mundo – inclui também inúmeros concertos e encenações de óperas. Todos os anos, mais de seis milhões de visitantes acorrem à cidade, hóspedes bem-vindos, pois os negócios ligados ao turismo são responsáveis por cerca de um quarto de toda a renda da cidade.
Em 1920, por ocasião do primeiro festival, os hóspedes ainda não eram tão bem aceitos, como mostra um registro da época:"01/07/1920 – O governo estadual de Salzburgo determinou uma restrição das visitas de estranhos e a direção do Festival de Salzburgo comprometeu-se a não fazer nenhuma propaganda das apresentações em cidades estrangeiras. Trens especiais, em direção a Linz, Viena, Zell am See e Bad Ischl, deverão fazer com que os hóspedes partam sem delongas".
O motivo para a posição pouco hospitaleira do município era a má situação do abastecimento. A Primeira Guerra Mundial tinha deixado seqüelas, havia inflação, falta de material de calefação e de alimentos: foi nessa época pobre que o festival – hoje tão pomposo – teve o seu ponto de partida.

Planos demoraram a ser concretizados
É longa e complicada a história que precedeu o surgimento do festival. Desde os planos iniciais, que datam da época anterior à Primeira Guerra, a concretização sempre foi estorvada por querelas em torno de conceitos e competências, mas principalmente pela escassez crônica de verbas. Em 1918, o legendário dramaturgo Max Reinhard entusiasmou-se com a idéia do festival.
Na sua juventude, Reinhard trabalhara no teatro de Salzburgo, antes de fazer uma grande carreira em Berlim. Com o seu amigo e colaborador, o poeta Hugo von Hofmannsthal, Reinhard desenvolveu o conceito de fazer o teatro retornar à tradição medieval e da Antigüidade: apresentações não apenas para os cultos e ricos habitantes das grandes cidades, mas sim para todo o povo.
Nada calharia melhor do que a peça mística Jedermann, de Hofmannsthal, com a sua linguagem simples e sua moral mais que óbvia. A morte e o diabo aparecem pessoalmente, da mesma maneira como a fé e o dinheiro: "Quem é você? Não conhece a minha cara? Sou a sua riqueza, o seu dinheiro, o que é tudo para você neste mundo".
A encenação também deveria romper as limitações do teatro convencional. Reinhard aproveitou a catedral de Salzburgo como cenário, improvisando um palco de madeira diante dela. A encenação da peça começou no final da tarde e terminou quando começava a escurecer.
Os atores participavam da ação também no meio do público, os clamores de Jedermann ressoavam do castelo Hohensalzburg, órgão e coral podiam ser ouvidos da catedral. "Clamo por vós no momento derradeiro. Oh Deus eterno, oh meu Salvador, ajude-me, se o inimigo infernal insistir em aparecer por aqui."
E quando, na cena final, Jedermann arrepende-se e é salvo das garras do diabo, soaram os sinos da catedral e ouviu-se uma revoada de pombos.

Rachel Gessat (am) © 2007 Deutsche Welle

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